Henriqueta Lisboa

by - quinta-feira, agosto 18, 2011

Henriqueta Lisboa nasceu Lambari em 15 de Julho de 1901 em Belo Horizonte e morreu no dia 9 de Outubro de 1985.
Henriqueta Lisboa foi a segunda filha do farmacêutico e Deputado Federal João de Almeida Lisboa e de sua esposa Maria de Vilhena Lisboa. Foi a primeira mulher eleita membro da Academia Mineira de Letras. Publicou váriaos ensaios e poesia.
fonte: wikipedia.org/wiki/Henriqueta-Lisboa

VEM DOCE MORTE
Vem, doce morte. Quando queiras.
Ao crepúsculo, no instante em que as nuvens
desfilam pálidos casulos
e o suspiro das árvores - secreto -
não é senão prenúncio
de um delicado acontecimento.


Quanto queiras. Ao meio-dia, súbito
espetáculo deslumbrante e inédito
de rubros panoramas abertos
ao sol, ao mar, aos montes, às planícies
com celeiros refertos e intocados.


Quando queiras. Presentes as estrelas
ou já esquivas, na madrugada
com pássaros despertos, à hora
em que os campos recolhem as sementes
e os cristais endurecem de frio.


Tenho o corpo tão leve (quando queiras)
que a teu primeiro sopro cederei distraída
como um pensamento cortado
pela visão da lua
em que acaso - mais alto - refloresça

ESSE DESPOJAMENTO
Esse despojamento
esse amargo esplendor.
Beleza em sombra
sacrifício incruento.
 


A mão sem jóias
descarnada
na pureza das veias.
A voz por um fio
desnuda
na palavra sem gesto.
 

O escuro em torno
e a lucidez
violenta lucidez terrível
batida de encontro ao rosto
como uma ofensa física.
 

Na imensidade sem pouso,
olhos duros
de pássaro.


ASSIM É O MEDO
Assim é o medo:
cinza
Verde.
Olhos de lince.
Voz sem timbre
Torvo e morno
Melindre.

Da sombra espreita
à espera de algo

que o alente.
Não age: tenta
porém recua
a qualquer bulha.

No campo assiste
junto ao títere
à cruz que esparze
vivo gazeio
de nervosismo
com vidro moído
grácil granizo
de pássaros.

E que rascante
violino brusco
não arrepia
ao longo o azul
dos meus veludos
se, a noite em meio
cá no fundo
quarto escuro,
a lua arrisca
numa oblíqua
o olhar morteiro.

Dentro da jaula
(mundo inapto)
do domador
em fúria à fera
subsinuosa-
mente resvala.

Aos frios reptos
do ziguezague
em choque, súbito
relampagueio,

as duas forças
se opõem dúbias
se atraem foscas
para a luta
pelo avesso:
despiste e fuga
ouro e vermelho
desde a entranha.

As duas forças
antagônicas:
qual delas ganha
acaso
ou perde
o medo
frente a
frente ao
medo?


A MENINA SELVAGEM
A menina selvagem veio da aurora
acompanhada de pássaros,
estrelas-marinhas
e seixos.
Traz uma tinta de magnólia escorrida
nas faces.
Seus cabelos, molhados de orvalho e
tocados de musgo,
cascateiam brincando
com o vento.
A menina selvagem carrega punhados
de renda,
sacode soltas espumas.
Alimenta peixes ariscos e renitentes papagaios.
E há de relance, no seu riso,
gume de aço e polpa de amora.

Reis Magos, é tempo!
Oferecei bosques, várzeas e campos
à menina selvagem:
ela veio atrás das libélulas.


NÃO A FACE DOS MORTOS

Não a face dos mortos.
Nem a face
dos que não coram
aos açoites
da vida.
Porém a face
lívida
dos que resistem
pelo espanto.

Não a face da madrugada
na exaustão
dos soluços.
Mas a face do lago
sem reflexos
quando as águas
entranha.

Não a face da estátua
fria de lua e zéfiro.
Mas a face do círio
que se consome
lívida
no ardor.


CIRANDA DE MARIPOSAS
 Vamos todos cirandar
ciranda de mariposas.
Mariposas na vidraça
são jóias, são brincos de ouro.

Ai! poeira de ouro translúcida
bailando em torno da lâmpada.
Ai! fulgurantes espelhos
refletindo asas que dançam.

Estrelas são mariposas
(faz tanto frio na rua!)
batem asas de esperança
contra as vidraças da lua.


HORIZONTE
Alma em suspiro
pelo encontro
do que fica
sempre mais longe

NOTURNO
Meu pensamento em febre
é uma lâmpada acesa
a incendiar a noite.

Meus desejos irrequietos,
à hora em que não há socorro,

dançam livres como libélulas
em redor do fogo.


DIVERTIMENTO
O esperto esquilo
ganha um coco.
Tem olhos intranqüilos
de louco.
Os dentes finos
mostra. E em pouco
os dentes finca
na polpa.
Assim, com perfeito estilo,
sob estridentes
dentes,
o coco, em segundos, fica
todo oco.


DEPOIS DA OPÇÃO
Um reposteiro o mais espesso
caia sobre a tragédia dos Andes.
Os que a viveram não falem.
A língua que provou a carne
de seus irmãos emudeça
da mais humana miséria
para não se desnaturar
em sem remédio
depois da opção


Em estátuas de pedra
se transformem os seres
que amargaram a ponto
de negação a si mesmo
imprensados
entre o vulcão de sangue
e a geleira: fantasmas
caminhando brancas nódoas
negras hóstias em travo
depois da opção.

A dor de quem viu palpou
compreendeu e perdoou
o que a si próprio não
se perdoaria é covardia.
Heróica é a dor dos que sofrem
não pela fome ou sede ou frio
ou cegueira que sofreram

mas pela crua memória
do jamais deglutido
nos desvãos ruminando
entre a alma e os ossos
depois da opção.


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8 comentários

  1. Oi amiga. Você visitou meu blog e pediu para te seguir. Mas já estou seguindo seu blog a alguns dias. Já levei até seu link para o meu. Bjs Lê.
    174Blogueiras Unidas www.penachioarte.blogspot.com

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  2. Olá
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    http://brasiliagrafiatos.blogspot.com/

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    www.penachioarte.blogspot.com

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  5. Poemas maravilhosos adorei, bjus bom final de semana.

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  6. Lindos poemas.Tocantes e simples,falam ao coração.Uma bela poetisa,precisa sr mais reconhecida..Olha a simplicidade:

    HORIZONTE
    Alma em suspiro
    pelo encontro
    do que fica
    sempre mais longe

    Em poucas palavras falou tudo.Expôs o sentimento de forma única,bela,simples objetiva.

    Parabéns,Lu pelo blog,cada vez,melhor.
    Beijão!Umlindo sábado para ti.Dani.

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  7. Belos poemas!!!!Passando para conhecer e seguir as amigas do Blogueiras Unidas que também participo!!Bjsss
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  8. Tem selinho para vc no meu blog!!! Bjs Lê

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