Augusto dos Anjos

by - segunda-feira, novembro 07, 2011

                                                 

Augusto de Carvalho Rodrigues dos Anjos nasceu no Engenho Pau d'Arco, Paraíba, no dia 20 de abril de 1884. Aprendeu com seu pai, bacharel, as primeiras letras. Fez o curso secundário no Liceu Paraibano, já sendo dado como doentio e nervoso por testemunhos da época. De uma família de proprietários de engenhos, assiste, nos primeiros anos do século XX, à decadência da antiga estrutura latifundiária, substituída pelas grandes usinas. Em 1903, matricula-se na Faculdade de Direito do Recife, formando-se em 1907. Ali teve contato com o trabalho "A Poesia Científica", do professor Martins Junior. Formado em direito, não advogou; vivia de ensinar português. Casou-se, em 04 de julho de 1910, com Ester Fialho.
Fonte: casa do bruxo

A ÁRVORE DA SERRA
— As árvores, meu filho, não têm alma!
E esta árvore me serve de empecilho...
É preciso cortá-la, pois, meu filho,
Para que eu tenha uma velhice calma!

— Meu pai, por que sua ira não se acalma?!
Não vê que em tudo existe o mesmo brilho?!
Deus pos almas nos cedros... no junquilho...
Esta árvore, meu pai, possui minh'alma! ...

— Disse — e ajoelhou-se, numa rogativa:
«Não mate a árvore, pai, para que eu viva!»
E quando a árvore, olhando a pátria serra,

Caiu aos golpes do machado bronco,
O moço triste se abraçou com o tronco
E nunca mais se levantou da terra!


A ESPERANÇA
A Esperança não murcha, ela não cansa,
Também como ela não sucumbe a Crença.
Vão-se sonhos nas asas da Descrença,
Voltam sonhos nas asas da Esperança.


Muita gente infeliz assim não pensa;
No entanto o mundo é uma ilusão completa,
E não é a Esperança por sentença
Este laço que ao mundo nos manieta?


Mocidade, portanto, ergue o teu grito,
Sirva-te a crença de fanal bendito,
Salve-te a glória no futuro - avança!


E eu, que vivo atrelado ao desalento,
Também espero o fim do meu tormento,
Na voz da morte a me bradar: descansa.


A NOITE
A nebulosidade ameaçadora
Tolda o éter, mancha a gleba, agride os rios
E urde amplas teias de carvões sombrios
No ar que álacre e radiante, há instantes, fora.

A água transubstancia-se. A onda estoura
Na negridão do oceano e entre os navios
Troa bárbara zoada de ais bravios,
Extraordinariamente atordoadora.


A custódia do anímico registro
A planetária escuridão se anexa...
Somente, iguais a espiões que acordam cedo.


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Ficam brilhando com fulgor sinistro
Dentro da treva omnímoda e complexa
Os olhos fundos dos que estão com medo!


DEPOIS DA ORGIA

O prazer que na orgia a hetaíra goza

Produz no meu sensorium de bacante

O efeito de uma túnica brilhante

Cobrindo ampla apostema escrofulosa!

 


Troveja! E anelo ter, sôfrega e ansiosa,

O sistema nervoso de um gigante

Para sofrer na minha carne estuante

A dor da força cósmica furiosa.

 


Apraz-me, enfim, despindo a última alfaia

Que ao comércio dos homens me traz presa,

Livre deste cadeado de peçonha,

 

 

Semelhante a um cachorro de atalaia

Às decomposições da Natureza,

Ficar latindo minha dor medonha!


DUAS ESTROFES

A queda do teu lírico arrabil

De um sentimento português ignoto

Lembra Lisboa, bela como um brinco,

Que um dia no ano trágico de mil

E setecentos e cincoenta e cinco,

Foi abalada por um terremoto!

 

 

A água quieta do Tejo te abençoa.

Tu representas toda essa Lisboa

De glórias quase sobrenaturais,

Apenas com uma diferença triste,

Com a diferença que Lisboa existe

E tu, amigo, não existes mais!


ETERNA MÁGOA

O homem por sobre quem caiu a praga

Da tristeza do Mundo, o homem que é triste

Para todos os séculos existe

E nunca mais o seu pesar se apaga!

 

 

Não crê em nada, pois, nada há que traga

Consolo à Mágoa, a que só ele assiste.

Quer resistir, e quanto mais resiste

Mais se lhe aumenta e se lhe afunda a chaga.

 

 

Sabe que sofre, mas o que não sabe

E que essa mágoa infinda assim não cabe

Na sua vida, é que essa mágoa infinda

 

 

Transpõe a vida do seu corpo inerme;

E quando esse homem se transforma em verme

É essa mágoa que o acompanha ainda!


ECOS D'ALMA

Oh! madrugada de ilusões, santíssima,

Sombra perdida lá do meu Passado,

Vinde entornar a clâmide puríssima

Da luz que fulge no ideal sagrado!

 

 

Longe das tristes noutes tumulares

Quem me dera viver entre quimeras,

Por entre o resplandor das Primaveeras

Oh! madrugada azul dos meus sonhares;

 

 

Mas quando vibrar a última balada

Da tarde e se calar a passarada

Na bruma sepulcral que o céu embaça,

 

 

Quem me dera morrer então risonho,

Fitando a nebulosa do meu Sonho

E a Via-Láctea da Ilusão que passa!


GUERRA

Guerra é esforço, é inquietude, é ânsia, é transporte...

E a dramatização sangrenta e dura

Vir Deus num simples grão de argila errante,

Da avidez com que o Espírito procura

 

 

É a Subconsciência que se transfigura

Em volição conflagradora... E a coorte

Das raças todas, que se entrega à morte

Para a felicidade da Criatura!

 

É a obsessão de ver sangue, é o instinto horrendo

De subir, na ordem cósmica, descendo

A irracionalidade primitiva...

 

 

É a Natureza que, no seu arcano,

Precisa de encharcar-se em sangue humano

Para mostrar aos homens que está viva!


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1 comentários

  1. Oi lindona,obrigada pelo carinho la no blog,tenha um, fim de semana maravilhosos,bjus
    http://blogdasonhagleide.blogspot.com/

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